Monday, June 4, 2012

False Astronomy



- Daria os meus olhos para te ver só mais uma vez. Diz ela engasgando a voz.

Ele, sabendo da mentira, vira-lhe as costas e enfia as mãos nos bolsos das calças surradas. Sente a mão dela no braço. Sente-a fria. Sempre assim foi. Tal qual como ele. Frio. O céu coberto de um rosa vivo anuncia calor no dia seguinte.

- Larga-me. Peço-te que me largues.

Ela anui. Solta-lhe o braço. E deixa-se cair. Assim fica, num chão de beatas e escarros de tantos e tantos que por ali passaram.

Ele, arrastando os pés afasta-se. Sente-lhe o cheiro doce. Ainda assim não pára. Não o pode fazer. Sabe se parar, será o fim, ou melhor, o princípio do fim, mais uma vez.

Onde o céu se torna escuro, vêem-se passar aves que rumam a lugar desconhecido. Onde tudo começa, todos os dias novamente. Mesmo sem asas será para lá que ele seguirá.

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