Friday, February 22, 2008

twist and turn

No alto do velho prédio mais cinzento do que o céu daquela manhã invernosa, ela abraça-se e assim se mantém não dando pela velocidade vertiginosa dos segundos que caiam um após outro do ponteiro maior do seu relógio. Abaixo, o rio teima em entrar-lhe pela alma adentro, a seus olhos a massa de água raivosa e escura que tudo arrasta, segue o seu rumo até ao grande mar, com que ela sonhou a sua vida inteira. Como se o grande mar fosse a porta para o outro lado. Pelas suas narinas o cheiro próprio da cidade provoca-lhe saudades da meninice, de joelhos esfolados, de papo-secos com manteiga e leite quente com chocolate.
Ele, arrasta os sapatos cansados na calçada gasta da rua, com os olhos colados ao chão parecendo contar as pedras irregulares que os anos teimaram em polir tornando-as escorregadias. Pára junto à porta verde de ferro e vidros partidos do prédio onde a vida já fez mais sentido. Sobe degrau após degrau, sentido por baixo de si o ranger da madeira velha e podre daqueles degraus onde há alguns anos em vez de os tocar, voava sobre eles ouvindo os gritos da velha avó, para ter cuidado, que se matava um dia, que quando o pai da fábrica chegasse lhe dava uma sova.
Sobre as cabeças deles o céu que ameaçava ruir com o peso das nuvens carregadas, começa agora a abrir lentamente. Ele aproxima-se dela e desajeitadamente ata-a com os seus braços pela cintura. Ela, sente o doce cheiro da água colónia de muitos anos e deixa cair a cabeça para trás aninhando-se no peito dele. Neste preciso momento tudo o que os rodeia ganha luz, novas cores, brilhos. Do céu, raios de sol rompem as nuvens e entram pelo rio trazendo de novo o azul que no fundo tinha ficado.
- Para o grande mar, vamos. Sussurra-lhe ele ao ouvido.



i am you

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